quarta-feira, 20 de julho de 2011

Peremptoriamente

  hiputrélico  x  peremptório

Dias  atrás ouvi  num programa  de  humor  a  palavra "peremptoriamente", e  essa  ficou  girando em  minha  mente  por  alguns  dias.
Já conhecia  a  palavra  e seu significado, mas  na verdade  nunca  há  tinha  pronunciado. Um  distinto  e robusto palavrão,  né!
Gostei de pronunciá-lo, faz  cócegas  no céu  da boca e  parece  ser  um  excelente  exercício  fonoaudiólogico.
Terminantemente  é  o  seu  significado  e  há  de  convir  que lhe  cai  bem.
Imagine uma  discussão  acabando  com  esse palavrão (no  sentido do  tamanho  e  pronúncia), seria como um "gran  finale".  rs  rs
E  se  usado numa  entrevista,  dependendo  do  selecionador,  franziria  a  testa,  balançaria a cabeça  e  mudaria  provavelmente  de  assunto. Deveras talvez  não  lembrasse o  significado,  ele  é   incomum,  o  palavrão,  digo.
Os selecionadores nem  tanto, ficam  às  voltas  com  uma  ruma  de  testes  e  esquecem  do  principal, conversar  e  perscrutar  o  candidato,  o  que  exigiria  talento  e  sensibilidade. Mas  essa  é  outra conversa.
Voltando  para o  palavrão,  já deve  ter  sido  utilizado, com  certeza, no  Soletrando, tudo  que  é  esdrúxulo, digo, diferente,  não  escapou  desse  programa.
E  na  atração  "Raul  Gil  e  as crianças"  também  seria  engraçadinho,  ver  aquela criançada  de  dois  aninhos  repetir, pois me  parece  até mais  complicado que Pindamonhangaba  e  paralelepípedo.

Depois  de todo  esse  "brincar  com  a  palavra"  me  veio  a  cabeça um  trecho  de  Guimarães  Rosa  em  que  alude  sobre  a formação de novas  palavras, neologismo,  lá  do  tempo  do  colegial,  hoje  ensino  médio.
"(...)  O bom português, homem de bem e muitíssimo inteligente, mas que, quando ou quando, neologizava, segundo suas necessidades íntimas. Ora, pois, numa roda, dizia ele, de algum sicrano, terceiro, ausente: -E ele é muito hiputrélico... Ao que, o indesejável maçante, não se contendo, emitiu o veto: -Olhe, meu amigo, essa palavra não existe. Parou o bom português, a olhá-lo, seu tanto perplexo: -Como? ... Ora ... Pois se eu a estou a dizer? -É. Mas não existe. Aí, o bom português, ainda meio enfigadado, mas no tom já feliz de descoberta, e apontando para o outro, peremptório: -O senhor também é hiputrélico... E ficou havendo". (Tutameia - Terceiras estórias)
Segundo o autor, "hipotrélico" significa "indivíduo pedante", "falta de respeito para com a opinião alheia." 

Ichi!  Peremptoriamente  está  cheio  de  hipotrélicos  por  aí! Você não  acha?

Encerrando  meu  pensar  concluí  que  a  vivacidade da  nossa língua  capacita-nos  a criar novas palavras, de ampliar o vocabulário, ou de emprestar aos vocábulos novos sentidos. Realmente  fantástica.
Também  que  brincar  de  aprender  é  possível,  viável   e  acima  de  tudo  prazeroso.
Mas  eis  que  me  veio  outra  curisidade, de onde vem  essa  palavrão,  qual  sua  raiz? Vou pesquisar  e  se  encontrar  noutro  momento  socializo  com  vocês.

Magda  Cunha

*Pedagoga, Psicopedagoga, Especialista em prendizagem,
consultora na rede pública e particular de ensino.
mag-helen.maravilha@gmail.com | www.promaravilha.blogspot.com





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