Saudade dos primeiros anos escolares, amava fazer lição de casa.
A professora, dona Iná, preenchia a primeira linha da página com sua linda caligrafia e a gente tinha que completar. Lembro-me que forçava tanto o lápis grafite, que marcava as próximas quatro folhas do caderno de brochura. Não raras vezes, eram os alunos que pediam pela lição de casa. Havia um quê de desafio em tudo aquilo.
E quando eram continhas então? Eu adorava, queria sempre mais. E quando acaba a lição era meu pai que passava folhas e folhas, e também depois corrigia.
Os trabalhos eram pesquisados na enciclopédia Barsa, manuscritos e ilustrados com o maior capricho.
Melhor quando precisava fazer cartazes, aí era uma farra, deixava minha tia Neima doida, ela que me ajudava, e com o maior entusiasmo usávamos toda sorte de recursos, cartolina, canetinha, lápis de cor, lantejoulas, guache, algodão, estrelinhas...
Alguns anos se passaram e era vez dos meus filhos fazerem a lição de casa, porém o sentimento era outro. Tudo parecia aborrecido, e se pudessem nem faziam.
Gradativamente estabelecemos uma rotina de estudos, foram desenvolvendo responsabilidade e autonomia, e no meio do ensino fundamental já se viravam sozinhos.
Na minha época tinha só uma professora até a quarta série, ela dava quase todas as matérias, e as aulas tinham um tempo flexível, ela que determinava. Os assuntos eram tratados com maior profundidade e havia troca de experiências entre a turma. A lição de casa ficava em segundo plano, a professora trabalhava em sala e se o assunto fosse realmente necessário, pedia uma pesquisa.
Não lembro de exercícios repetidos e chatos para completar, ou acúmulo de lições de casa.
Já no tempo dos meus filhos, desde a primeira série tinham cinco professoras, que davam duas disciplinas cada (matemática e ciência, inglês e português, geografia e informática, educação física, religião), o tempo das aulas era corrido e as lições de casa volumosas.
Quase tudo que era visto em sala era repetido nas lições de casa, o que chamavam de fixação.
O sistema era apostilado, o que confundia na marcação das lições para casa, fora as de classe que se ficassem incompletas tinha que terminar em casa.
Excesso de informação, pouca aprendizagem e muito desânimo, esse era o cenário que vislumbrava.
Então comecei a questionar os professores a respeito da sobrecarga de lições, que as vezes tomavam quase todo tempo em casa e eles ficavam irritados por não poderem brincar um pouco antes de ir pra escola.
O que era de se esperar, os professores disseram que era asim mesmo, tinha muito conteúdo e a apostila já vinha marcada com a lição de casa, portanto não eram os responsáveis.
Falei com a coordenação e disse-me que foram os professores que escolheram o material didático, e aí percebi que um jogava a responsabilidade para o outro e não adiantaria nada continuar naquele assunto.
Conversando com outras mães, as que trabalhavam fora, achavam ótimo bastante lição, assim os filhos se manteriam ocupados e disciplinados; as que ficavam em casa achavam ótimo muita lição, sinal que a escola era muito boa.
O jeito foi aguentar até o final do ano e mudá-los de escola, agora sim verificando o material pedagógico e como eram as lições de casa.
Uma boa escola não se mede pela quantidade de lição que dá aos alunos e sim pelo envolvimento deles com os assuntos, seu entusiasmo pelas descobertas, o ganho gradativo da autonomia, responsabilidade pelas atividades feitas em casa e fundamentamente sua vontade de ir para escola. E ainda o aluno precisa sentir que está sendo desafiado em sua aprendizagem.
As primeiras apostilas dos meus filhos serviram para reciclagem, pouco lhes acrescentaram e com certeza se persistisse naquela escola, hoje não teria jovens que curtem aprender, são leitores por prazer, curiosos nas descobertas e responsáveis em seus trabalhos.
Veja bem se seu filho trás lição para casa ou lixão "para reciclagem", se não houver prazer não há aprender.
Essa minha expeiência de vida me reportou a Içami Tiba, "Aprendi através da experiência amarga a suprema lição: controlar minha ira e torná-la como o calor que é convertido em energia. Nossa ira controlada pode ser convertida numa força capaz de mover o mundo."
Essa minha expeiência de vida me reportou a Içami Tiba, "Aprendi através da experiência amarga a suprema lição: controlar minha ira e torná-la como o calor que é convertido em energia. Nossa ira controlada pode ser convertida numa força capaz de mover o mundo."
Magda Cunha
consultora na rede pública e particular de ensino.
mailto:ensino.mag-helen.maravilha@gmail.com | http://www.promaravilha.blogspot.com/
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