sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Leitura em extinção


Lendo o artigo do colunista Tony Bellotto   refleti sobre a distância imensa que a maioria esmagadora dos brasileiros encontra-se em relação ao universo literário.
Um universo que é pouco valorizado, que depende de modelo desde a infância ou pelo menos de uma estrutura educacional que potencialize a leitura por prazer.
Vejo a leitura esquecida, como se fosse algo antigo, sem espaço nesse universo midiátio.
Sem leitura o Homem fica sem cerce, que fazer pra reverter esse desatino?
Um novo paradigma em relação ao leitor tem transparecido na Bienal do livro, eventos em  livrarias, bibliotecas públicas e nos programas educacionais.
A valorização desse hábito carece de estímulo, de campanhas contínuas e incentivo desde a mais tenra idade.
A família tem um papel preponderante. E o que dizer se a constituição familiar tem-se esfacelado ...
Um problema de ordem estrutural ...
Quanto mais mexe, mais complicado fica ...

Magda Cunha

Fonte: Companhia das letras

Por Tony Bellotto
Aegean Sunset
Pôr do sol em Santorini
Ao me preparar para uma recente viagem à Grécia, depois de feita a mala, me deparei com a questão fundamental: que livros levar?
Desviei os olhos da pilha na cabeceira — os clássicos russos e franceses nunca lidos, o recém lançado romance de um amigo, o livro chato porém fundamental de não sei quem, todos amontoados como Penélopes de papel — e me encaminhei à estante em busca de romances latino-americanos, que me pareceram a companhia literária ideal para um giro pelas Cíclades (não sei por que razão, já que uma antologia de Kaváfis ou a Odisseiaseriam escolhas mais óbvias).
Uma releitura de Cem anos de solidão? Ou de O jogo da amarelinha?
E então esbarrei no Pedro Páramo, de Juan Rulfo, escondido entre dois Carlos Fuentes e um Octavio Paz.
A edição da Brasiliense de 1969, o volume 4 da Coleção América Latina, com capa deslumbrante de J. Toledo, contundente introdução de Otto Maria Carpeaux e tradução seca de Jurema Finamour é dos meus mais preciosos livros de estimação.
Levei o bichinho comigo para a Grécia e dois dias depois, à beira da piscina de um hotel em Santorini, relendo a obra prima da concisão, me perguntei se não teria cometido uma besteira ao conduzir meu velho Páramo para um lugar tão distante, quente, ensolarado e de vento forte e contínuo. Fiquei com medo de que suas páginas começassem a se soltar e que o livro se desfizesse em minhas mãos e se transformasse em pó às margens do Egeu.
Mas Pedro Páramo retornou inteiro para casa, provando a qualidade da edição de 43 anos, e já está guardado na estante junto a Pergunte ao pó, de John Fante, edição de 1987 da mesma Brasiliense com tradução de Paulo Leminski, dois de meus recorrentes estimados prediletos, sem os quais eu me sentiria um sujeito desafortunado e muito mais melancólico.

* * * * *

Tony Bellotto, além de escritor, é compositor e guitarrista da banda de rock Titãs. Seu livro mais recente, No buraco, foi lançado pela Companhia das Letras em setembro de 2010.

Nenhum comentário:

Postar um comentário