terça-feira, 5 de dezembro de 2017

Meditação na infância



fácil do que você imagina– por Maria Clara Vieira

Uma pequena pausa na rotina. Talvez seja apenas isso que seu filho precisa para ter mais tranquilidade e qualidade de vida. Em um mundo tão agitado, conectado e repleto de estímulos por todos os lados, apreciar um momento de paz e silencio parece impensável para algumas pessoas – embora seja muito necessário e bem-vindo.

A meditação, prática milenar surgida na Ásia, consiste justamente nisso: de maneira simplificada, o objetivo é repousar o corpo e aquietar a mente para alcançar o relaxamento. Parece ótimo, não é? A boa notícia é que as crianças podem se beneficiar desse momento tanto quanto os adultos.

“Nós, adultos, estamos acostumados a dizer que crianças não têm preocupações, responsabilidades nem obrigações, e que a vida delas é perfeita”, afirma a professora de ioga Cássia Parmeggiani, fundadora do projeto Pequenos Yogis. “No entanto, se pararmos para refletir, isto não é verdade. Questões como o bullying, os problemas familiares, o estresse causado pelo excesso de atividades, o uso excessivo de eletrônicos e a cobrança por resultados na escola estão criando crianças tristes e ansiosas, com problemas de atenção, concentração, foco e comportamento”, explica el

Os benefícios

Quando incorporada à rotina e praticada de maneira regular, a meditação traz uma porção de benefícios à criança. A lista de pontos positivos é enorme: combate o estresse, alivia a ansiedade, melhorar o sono, reduz a agressividade, relaxa física e mentalmente, melhora a concentração, minimiza os sintomas de TDAH e ajuda a lidar com sentimentos como frustração, medo e raiva.

“Muitos são os benefícios, mas um dos maiores é ajudar as crianças a entrar em contato com elas mesmas. Isso pode ser a chave para uma mudança importante na forma de criarmos nossos filhos, pensando, acima de tudo, no bem-estar deles e não somente em resultados”, comenta Cássia.

Como a criança de hoje tem muitos estímulos – aulas extras, telas, brinquedos eletrônicos e tecnologia –, sobra menos tempo para brincar livremente. “Isso é extremamente prejudicial. O excesso de estímulos faz com que ela se desconecte de si mesma e entre em um padrão muito acelerado, com competição e ansiedade”, pondera o professor de ioga João Carlos Soares, criador da Yoga com Histórias.

Soares explica que, quando isso acontece, forma-se na criança um padrão de solidão e desconexão de sua essência. “A meditação vem justamente tentar dar um espaço para que ela possa parar, respirar e se conectar com o silêncio interior. Ela percebe que isso é muito bom e começa a entender que existe um mundo de emoções e pensamentos dentro dela”, diz. Assim, seu filho conseguirá sentir e organizar esse mundo mental e emocional de outra forma, reestabelecendo o equilíbrio e a conexão com quem ele realmente é.

Como fazer

Está animado para colocar a meditação na vida de seu filho? Pode ser mais fácil do que você imagina. Por volta dos 2 ou 3 anos já é possível guiá-lo por esse caminho com atitudes bem simples. É claro que é preciso bom-senso: não espere que uma criança pequena vá ficar 10 minutos paradinha, em silêncio. É preciso respeitar a maturidade emocional dela e não forçar uma situação. Uma boa medida para os pais é verificar se o filho já consegue acompanhar uma história com concentração – elas podem ser usadas para introduzir a meditação de forma lúdica na infância.

“A apenas fechar os olhos, respirar e inspirar não é atrativo para a criança. Mas criando um ambiente mágico e lúdico, ela começa a acompanhar, sente que aquilo é gostoso e se interessa cada vez mais. As histórias conversam com as emoções e os sentimentos da criança”, ensina Soares, que segue um método pensado especificamente para a infância e irá lançar um CD para ajudar a guiar a meditação (confira um exemplo ao final dessa matéria).

A meditação é um hábito que só traz benefícios. O combate ao estresse, alívio da ansiedade e relaxamento são alguns deles.

Aos poucos

Se você e o seu filho estão familiarizados com a prática, há formas fáceis de começar a introduzi-la de maneira muito natural, por meio de brincadeiras que levam à meditação.

É importante ressaltar o exercício que não deve ser uma imposição, e sim um momento prazeroso e confortável. “À medida em que a criança se familiariza e aprende a manter o foco, podemos aumentar o tempo e incorporar outras técnicas. As práticas que menciono são simples e podem ser realizadas diariamente, como uma pausa na rotina, mesmo que somente por alguns minutos”, esclarece Cássia.

E ela dá exemplos: um passeio no parque para contemplar a natureza, brincar com uma ampulheta e observar a areia caindo, colorir mandalas, escutar uma história e tentar imaginar que é parte dela fazendo uma visualização, colocar o bichinho de pelúcia favorito sobre o peito e observar como ele se movimenta enquanto respiramos… Tudo isso vale!

Na escola

A meditação é tão benéfica que algumas escolas têm apostado nela para acalmar os alunos e melhorar a qualidade de vida deles. É o caso do Colégio Marista Santa Maria (PR), onde há 5 anos os pequenos estudantes contam com professores conscientes sobre a prática. “Há alguns anos, a gente tinha uma especificidade em uma turma atípica, muito ativa e com falta de concentração. Então começamos a pensar em maneiras de ajudar e surgiu a ideia da meditação em sala de aula”, lembra Ana Paula Detzel, coordenadora da Educação Infantil.

“Trouxemos a técnica de respiração e respiração. São exercícios simples de fechar os olhos, se concentrar e ficar com o corpo parado. Começamos com um minuto, no máximo, e, no final do ano, as crianças ficariam até uns 20 minutos se deixássemos”, comenta Ana Paula. A meditação se incorporou à grade horária escolar e virou rotina para professores e alunos a partir de 2 anos. O resultado? Maior concentração e controle emocional. “Tivemos avanços muito significativos”, comemora a coordenadora. “As crianças gostam. É um hábito super natural que se leva por toda a vida”.

Exemplo de meditação guiada para crianças

Em casa, os próprios pais podem propor o momento de relaxamento e meditação. Basta orientar que a criança se sente confortavelmente e ouça suas palavras. A seguir, confira um exemplo de meditação para crianças, fornecido pelo professor João Carlos Soares, do Yoga com Histórias. Narre à criança, de forma calma e pausada:

Feche seus olhos e me acompanhe nessa jornada! Sinta seu corpo confortável, suas costas esticadas e seu rosto completamente relaxado. Respire bem devagar como se seu corpo fosse um imenso balão a se encher. Solte o ar devagar como se o seu corpo fosse um imenso balão a se esvaziar.

Encha o balão. Esvazie o balão.

Encha o balão. Esvazie o balão

Agora, sua mente está tranquila e pronta para passear pelo mundo da imaginação. Gostaria de lhe apresentar um amigo muito especial! Um antigo mago, que viajou por toda a Índia e aprendeu muitas coisas interessantes. Com suas barbas compridas e bochechas rosadas, sempre foi respeitado por todos, em todos os lugares do mundo, pois seus poderes mágicos, sua sabedoria e sua bondade já ajudaram muitas e muitas pessoas.

Ele traz com ele uma pedra, coloca em suas mãos e pede para que você a segure. Sinta a pedra com suas mãos. Toque, explore. Sinta sua forma. Sinta sua textura. Sinta sua temperatura. Perceba se ela é lisa, quente ou fria, grande ou pequena. O mago pede que você segure a pedra com as duas mãos e sinta tudo que você consegue perceber. Esta pedra foi criada pela Mãe Terra há muito, muito tempo atrás e traz dentro dela a força de todo este tempo: uma grande e poderosa energia!

Perceba que, ativada pelo toque de suas mãos, pelo seu poder pessoal, toda esta força se ativa, torna-se novamente viva. Sinta como a pedra brilha intensamente. Perceba que ela se transforma em um lindo cristal. O cristal tem o poder de enviar energia para todo o seu corpo! Sinta seu corpo forte e vivo! Sinta seus pensamentos tranquilos e inteligentes. Sinta a força viva dentro de você.

Perceba que a energia de todas as coisas da vida também está presente dentro de você. E sentindo toda esta magia dentro de você, permaneça em silêncio [pausa de alguns minutos].

Agora, perceba novamente sua respiração, seu corpo e vá retornando lentamente. Namastê. Tudo de bom para você. Tudo de bom para mim. Tudo de bom para todos nós.

Fonte: Revista Crescer




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