sexta-feira, 5 de agosto de 2016

Brincadeira tem hora? Alfabetizar na Educação Infantil.


 














A Educação Infantil não pode ser suprimida pela alfabetização precoce.
O desenvolvimento da criança precisa de tempo para que ela possa brincar sem estar dirigida, vivenciar o lúdico utilizando a criatividade, inventividade, criar soluções, resolver problemas e assim constituir as regras sociais para significar as futuras práticas de ler e escrever prazerosamente.
Infelizmente não é isso que se observa atualmente nas escolas de Educação Infantil, pois as crianças estão sendo muito estimuladas a produzirem escrita e dominarem a leitura, valendo-se de propostas "pseudo" apropriadas.
Felizmente já existem estudos nesse sentido, abaixo segue uma leitura interessante e reflexiva sobre a criança e seu desenvolvimento cognitivo.
Aprecio muito a Fundação Lemann e estou acompanhando esse estudo.

Magda Cunha

Fonte: Blog do Freitas

Educação Infantil está virando Ensino Fundamental

Publicado em 20/12/2015 por Luiz Carlos de Freitas

Recentemente, a Fundação Lemann enviou uma proposta de mudança para os estudos que estão definindo a base nacional comum da educação infantil no Brasil. Nela, propõe-se uma maior ênfase na alfabetização.

Diane Ravitch mais uma vez relata em seu blog estudos que mostram os efeitos deletérios da antecipação escolar proposta no Brasil pela Fundação Lemann e que evidenciam que as pressões por antecipar ambientes estruturados de aprendizagem voltados para habilidades escolares típicas da primeira série (hoje já iniciando-se aos seis anos no Brasil) produz efeitos nefastos na formação das crianças. Especialmente, porque não param nas proximidades dos seis anos, mas vão em cascata afetando os anos iniciais da pré-escola e até mesmo a creche.

Esta concepção induz a uma febre para “aproveitar janelas de desenvolvimento” criadas por teorias duvidosas do desenvolvimento infantil e que constituíram um mercado milionário para as empresas educacionais, transformando as crianças em cobaias de “inovações” supostamente ancoradas em neuro-ciência.

No referido post Diane mostra a que levam as pressões que o Common Core (algo como uma base nacional comum restrita a leitura e matemática nos Estados Unidos) e as pressões por antecipação dos testes que geralmente acompanham estes movimentos, conduzindo a mudanças que não são bem vindas para a formação das nossas crianças. Mencionando publicação do The Atlantic Magazine, por Erika Christakis, diz:


“Um estudo, intitulado “É o Jardim de Infância a nova primeira série?“, que compara atitudes dos professores de jardins de infância em todo o país entre 1998 e 2010, constatou que o percentual de professores que esperam que as crianças saibam ler até o final do ano havia subido de 30 para 80 por cento. Os pesquisadores também relataram mais tempo gasto com manuais e tarefas, e menos tempo dedicado à música e arte. O jardim da infância é, de fato, a nova primeira série, concluíram os autores melancolicamente. Por sua vez, as crianças que faziam uso dos anos do jardim de infância como uma transição suave para a escola estão, em alguns casos, sendo retidos antes que tenham a chance de começar. Um estudo de Mississippi descobriu que, em alguns municípios, mais de 10 por cento dos alunos das escolas de jardins da infância não foram autorizados a avançar para a primeira série.

“Até recentemente, habilidades de prontidão escolar não eram uma prioridade na agenda de ninguém, nem a ideia de que os alunos mais novos poderiam ser desqualificados para passar para uma fase posterior. Mas o jardim de infância agora serve como um “porteiro” e não como um tapete de boas vindas para a escola primária e as preocupações com a preparação para a escola começam cada vez mais cedo. Uma criança que se quer que leia até o final do jardim de infância deveria de fato estar se preparando na pré-escola. Como resultado, as expectativas, sem dúvida, que poderiam ter sido razoáveis para os mais velhos de 5 e 6 anos, como ser capaz de se sentar em uma mesa e completar uma tarefa usando lápis e papel, estão agora dirigidas às crianças ainda mais jovens, que não têm habilidades motoras e não têm a capacidade de atenção para ser bem sucedidas. “

“Salas de aula da pré-escola se transformaram em espaços cada vez mais tensos, com os professores fazendo ameaças de que as crianças devem concluir o seu “trabalho” antes que eles possam ir brincar.

“Novas pesquisas destacam aspectos particularmente inquietantes. Uma grande avaliação do sistema de financiamento público da pré-escola em Tennessee, publicado em setembro, encontrou que, embora as crianças que frequentaram pré-escolas inicialmente exibiram mais “habilidades de prontidão escolar” em relação às que não fizeram jardim de infância, durante a primeira série, no entanto, as atitudes em relação à escola foram se deteriorando. E na segunda série se saíram pior em testes que mediram habilidades de alfabetização, linguagem e matemática. Os pesquisadores disseram à revista New York que a dependência excessiva de instrução direta e repetitiva, uma pedagogia pobremente estruturada, foram provavelmente as culpadas; crianças que tinham sido submetidas ano após ano às mesmas tarefas insípidas foram, compreensivelmente, perdendo seu entusiasmo pela aprendizagem estruturada. “


By Edmon de Haro, The Atlantic Magazine

Segue o resumo da pesquisa:


“Recentes estudos sugerem que as pressões por accountability que hoje invadiram as primeiras séries e o jardim da infância são caracterizadas por um maior foco nas competências acadêmicas e uma redução de oportunidades para brincar. Este artigo compara as salas de aula do jardim de infância entre 1998 e 2010, utilizando dois grandes conjuntos de dados nacionalmente representativos. Mostra mudanças substanciais em cada uma das cinco dimensões consideradas: crenças dos professores de jardim da infância sobre prontidão para a escola, tempo gasto com conteúdo acadêmico e não acadêmico, organização da sala de aula, abordagem pedagógica, e utilização de avaliações padronizadas. Os educadores de infância no período posterior tinham expectativas acadêmicas muito mais altas para as crianças, tanto antes da entrada no jardim de infância como durante os anos de jardim de infância.

Eles dedicam hoje mais tempo à alfabetização avançada e conteúdo de matemática, instrução dirigida pelo professor e avaliação, e substancialmente menos tempo para arte, música, ciência e atividades selecionadas pelas crianças. As alterações foram mais acentuadas para as escolas que atendem altas proporções de crianças de baixa renda e não-brancas.”

Refletindo sobre a Finlândia, Erika diz no The Atlantic:

“Aqui está o que os finlandeses, que não começam uma instrução formal de leitura antes de 7 anos de idade, têm a dizer sobre a preparação de pré-escolares para ler: “A base para o início da alfabetização é que as crianças tenham atenção e ouçam … que elas tenham falado e conversado, que as pessoas tenham discutido [coisas] com elas … Que elas tenham feito perguntas e recebido respostas. “

Ou seja, há opções bem sucedidas ao estudo da Lemann. É preciso ter claro que a opção pela orientação Lemann reproduz caminhos que conduzirão a efeitos nefastos para a formação de nossas crianças, como de resto a pesquisa tem sucessivamente evidenciado.

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