Espaço em que dialogo sobre a trajetória dos educadores,sua formação teórica e sua prática.
O nome "professora maravilha" faz alusão ao papel social estabelecido aos docentes e suas multi facetas.
O mel e o fel de ser educador...
O desenvolvimento motor humano passa por diversas etapas ao longo da
vida de acordo com a fase em que o indivíduo se encontra. Essas etapas
são de extrema importância para a aquisição de determinadas habilidades
que serão utilizadas para toda a vida.
Esse é justamente o caso do movimento de pinça e como ele é importante para a realização de tarefas cotidianas, como a escrita, por exemplo.
Talvez você não saiba, mas foi o movimento de pinça
que permitiu ao homem a realização de trabalhos manuais, auxiliando
inclusive durante o processo evolutivo da espécie no manuseio e
construção de artigos de caça e demais ferramentas.
A importância do movimento de pinça para a escrita
Que a realização do movimento de pinça foi uma das
habilidades adquiridas pelo homem durante o processo evolutivo nós aqui
já sabemos, mas a pergunta que não quer calar é qual a importância do movimento de pinça para a escrita?
Pois então vamos descobrir!
Se existe algo extremamente comum é ouvirmos diversos questionamentos
e comentários a respeito da qualidade da escrita das crianças,
principalmente nos dias atuais.
O que acontece é que, segundo estudos da “Psicogênese da Língua
Escrita” o processo da escrita em si está sendo um tanto deixado de lado
pelos educadores modernos.
Esse é um processo que envolve muitas etapas que vão desde a
instrumentação até habilidades psicomotoras que são as que requerem
maturidade e treinamento muscular preparando dedos e braços para o ato
da escrita em si.
Sendo assim, para escrever e comunicar-se com legibilidade através desse meio a criança precisa estar com o movimento de pinça muito bem treinado, definido e desenvolvido.
Assim ela conseguirá segurar o lápis corretamente, apoiar o braço de
maneira adequada na mesa tendo o suporte necessário prevenindo dores
decorrentes da má postura.
Como treinar e desenvolver o movimento de pinça
Para treinar e desenvolver o movimento de pinça nas
crianças tanto os educadores como os pais podem oferecer ferramentas que
trabalhem com essa atividade como argila e massinhas de modelar.
Trabalhos manuais como rasgar papel, enrolar bolinhas de papel,
transportar materiais, desenhar, pintar ou mesmo o arremesso de bolinhas
de jornal também ajudam no processo de aquisição do movimento.
Treinar desenhos de quadrados, círculos e outras formas geométricas
também é fundamental para que posteriormente a criança consiga também
desenhar os símbolos pertencentes ao nosso alfabeto.
Isso por que através dessas figuras geométricas as crianças
desenvolvem a habilidade de executar traços horizontais, verticais,
inclinados e também circulares.
Entretanto vale lembrar que os traços circulares e inclinados só
aparecem mesmo na representação da criança depois que ela é capaz de
cruzar a linha mediana do corpo, pois antes eles são representados
tombando o papel.
O alerta então vai para a importância de o professor e também os pais
estarem sempre atentos ao desenvolvimento motor da criança cuidando
também para que a escrita em caixa alta não se estenda por muito tempo,
pois é uma escrita simples e com representações básicas, mas que faz
parte do processo de aprendizagem.
O fundamental é saber que a letra minúscula tem uma importância muito
grande para a escrita, pois permite que a criança passe a identificar
hastes descendentes e ascendentes e também o lado esquerdo e direito
adquirindo a fineza de movimentos necessários para executá-los.
Uma das características mais
marcantes de Jean-Paul Sartre (1905-1980) é sua versatilidade com os
vários tipos de texto, aliando conceitos filosóficos a ensaios e
ficções. Não se pode, no entanto, separá-los no conjunto da obra
sartreana. Romances contos, crônicas, crítica literária, jornalismo,
análise política e ensaios estão profundamente ligados, constituindo-se
em maneiras diferentes de expressar o tema principal de sua reflexão: o
homem.
Neste sentido, Sartre retoma a ideia de
Heidegger, de que o ser humano vem do nada e se dirige também para o
nada. Ele vem do nada e somente passa a ser, a existir, quando, já no
mundo, começa a fazer-se, a construir-se é nesse sentido que Sartre
entende o homem como “ser para-si” e, novamente, resgata outra noção de
Heidegger: a de que a existência humana é sempre um projeto. Existir é
impelir-se na direção do futuro.
Para aqueles que queiram conhecer melhor a
obra de Jean-Paul Sarte segue, abaixo, a lista de títulos disponíveis
para download e, mais abaixo, em vermelho, o link para realizar o
download dos livros:
A
existência como liberdade absoluta | A imaginação | A náusea; As moscas
| Entre quatro paredes | Erostrato; Esboço para uma teoria das emoções |
Infância de um chefe | O existêncialismo é um humanismo | O imaginário –
Psicologia fenomenológica da imaginação | O método Progressivo
Regressivo |O que é subjetividade | O que é literatura | O ser e o nada |
Caminhos da liberdade 1 – Idade da razão | Caminhos da liberdade 2
-Pena suspensa | Caminhos da liberdade 3 | Com a morte na alma e Os
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autores num lugar só, facilitando o acesso aos nossos leitores. Segue
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Escritos, Nomes do pai, O Seminário (
livros 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 14, 15, 16, 17. 18, 19, 20
e 23) e O saber do psicanalista.
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Sigmund Freud, 28 livros:
A interpretação dos sonhos, Luto e
Melancolia, O futuro de uma ilusão, O mal-estar na cultura, Obras
Completas do volume 1 ao 23 em arquivos independentes e Obras Completas
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Além da bibliografia de Sigmund Freud, para aqueles que queiram
conhecer melhor a obra do autor, recomendamos o documentário “Análise de
uma mente” que você pode ver, clicando aqui.
Carl Jung, 11 livros:
A Energia Psíquica, A natureza da Psique,
O desenvolvimento da personalidade, O homem e seus símbolos, O segredo
da Flor de Ouro, Os arquétipos e o inconsciente coletivo, Psicologia do
Inconsciente, Psicologia e Religião e Um mito moderno sobre coisas
vistas do céu.
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Além da bibliografia de Carl Jung, para aqueles que queiram conhecer
melhor a obra do autor, recomendamos 2 entrevistas , que você pode ver clicando aqui.
Dos pré-socráticos aos pós-modernos!
Coleção “Os Pensadores -: 55 livros sobre os pensadores das principais
escolas filosóficas em PDF, disponível para download.
A Coleção “Os Pensadores” é uma
coleção de livros que reúne as obras dos filósofos ocidentais desde os
pré-socráticos aos pós-modernos. O interessante desta coleção é que ela
reúne em cada exemplar um pequeno apanhado sobre a biografia do autor em
questão e um, dois ou três livros deste mesmo autor, normalmente os
títulos mais conhecidos.
Publicada originalmente pela editora
Abril Cultural, entre os anos de 1973/1975 era composta de 52 volumes. A
edição que indicamos é de 1984 e é composta por 56 títulos, segue
abaixo a lista de títulos disponíveis e mais abaixo (em vermelho) o link
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“A educação não pode ignorar a curiosidade das crianças”
– Edgar Morin
Mudanças
profundas ocorreram em escala mundial nas últimas décadas do século 20,
entre elas o avanço da tecnologia de informação, a globalização
econômica e o fim da polarização ideológica nas relações internacionais.
Diante
desse cenário, o sociólogo francês Edgar Morin, hoje com 95 anos,
defende que a maior urgência no campo das ideias não é rever doutrinas e
métodos, mas elaborar uma nova concepção do próprio conhecimento. No
lugar da especialização, da simplificação e da fragmentação de saberes,
Morin propõe um dos conceitos que o tornaram um dos maiores intelectuais
do nosso tempo: o da complexidade.
Em entrevista, o pensador
critica o modelo ocidental de ensino que, segundo ele, separa os
conhecimentos artificialmente através das disciplinas. Para Morin, as
disciplinas fechadas ensinam o aluno a ser um indivíduo adaptado à
sociedade, mas impedem a compreensão dos problemas do mundo e de si
mesmo.
Entrevista concedida à Andrea Rangel/O Globo
Na sua opinião, como seria o modelo ideal de educação?
A figura do professor é determinante para a consolidação de um modelo
“ideal” de educação. Através da Internet, os alunos podem ter acesso a
todo o tipo de conhecimento sem a presença de um professor.
Então
eu pergunto, o que faz necessária a presença de um professor? Ele deve
ser o regente da orquestra, observar o fluxo desses conhecimentos e
elucidar as dúvidas dos alunos. Por exemplo, quando um professor passa
uma lição a um aluno, que vai buscar uma resposta na Internet, ele deve
posteriormente corrigir os erros cometidos, criticar o conteúdo
pesquisado.
É preciso desenvolver o senso crítico dos alunos. O
papel do professor precisa passar por uma transformação, já que a
criança não aprende apenas com os amigos, a família, a escola. Outro
ponto importante: é necessário criar meios de transmissão do
conhecimento a serviço da curiosidade dos alunos. O modelo de educação,
sobretudo, não pode ignorar a curiosidade das crianças.
Quais são os maiores problemas do modelo de ensino atual?
O modelo de ensino que foi instituído nos países ocidentais é aquele que
separa os conhecimentos artificialmente através das disciplinas. E não é
o que vemos na natureza. No caso de animais e vegetais, vamos notar que
todos os conhecimentos são interligados. E a escola não ensina o que é o
conhecimento, ele é apenas transmitido pelos educadores, o que é um
reducionismo.
O conhecimento complexo evita o erro, que é
cometido, por exemplo, quando um aluno escolhe mal a sua carreira. Por
isso eu digo que a educação precisa fornecer subsídios ao ser humano,
que precisa lutar contra o erro e a ilusão.
O senhor pode explicar melhor esse conceito de conhecimento?
Vamos pensar em um conhecimento mais simples, a nossa percepção visual.
Eu vejo as pessoas que estão comigo, essa visão é uma percepção da
realidade, que é uma tradução de todos os estímulos que chegam à nossa
retina. Por que essa visão é uma fotografia? As pessoas que estão longe
são pequenas, e vice-versa. E essa visão é reconstruída de forma a
reconhecermos essa alteração da realidade, já que todas as pessoas
apresentam um tamanho similar.
Todo conhecimento é uma tradução,
que é seguido de uma reconstrução, e ambos os processos oferecem o risco
do erro. Existe outro ponto vital que não é abordado pelo ensino: a
compreensão humana.
O grande problema da humanidade é que todos
nós somos idênticos e diferentes, e precisamos lidar com essas duas
ideias que não são compatíveis.
A crise no ensino surge por conta
da ausência dessas matérias que são importantes ao viver. Ensinamos
apenas o aluno a ser um indivíduo adaptado à sociedade, mas ele também
precisa se adaptar aos fatos e a si mesmo.
O que é a transdisciplinaridade, que defende a unidade do conhecimento?
As disciplinas fechadas impedem a compreensão dos problemas do mundo. A
transdisciplinaridade, na minha opinião, é o que possibilita, através
das disciplinas, a transmissão de uma visão de mundo mais complexa.
O
meu livro O homem e a morte é tipicamente transdisciplinar, pois busco
entender as diferentes reações humanas diante da morte através dos
conhecimentos da pré-história, da psicologia, da religião. Eu precisei
fazer uma viagem por todas as doenças sociais e humanas, e recorri aos
saberes de áreas do conhecimento, como psicanálise e biologia.
Como a associação entre a razão e a afetividade pode ser aplicada no sistema educacional?
É preciso estabelecer um jogo dialético entre razão e emoção.
Descobriu-se que a razão pura não existe. Um matemático precisa ter
paixão pela matemática. Não podemos abandonar a razão, o sentimento deve
ser submetido a um controle racional.
O economista, muitas vezes,
só trabalha através do cálculo, que é um complemento cego ao sentimento
humano. Ao não levar em consideração as emoções dos seres humanos, um
economista opera apenas cálculos cegos. Essa postura explica em boa
parte a crise econômica que a Europa está vivendo atualmente.
A literatura e as artes deveriam ocupar mais espaço no currículo das escolas? Por quê?
Para se conhecer o ser humano, é preciso estudar áreas do conhecimento
como as ciências sociais, a biologia, a psicologia. Mas a literatura e
as artes também são um meio de conhecimento.
Os romances retratam o
indivíduo na sociedade, seja por meio de Balzac ou Dostoiévski, e
transmitem conhecimentos sobre sentimentos, paixões e contradições
humanas. A poesia é também importante, nos ajuda a reconhecer e a viver a
qualidade poética da vida. As grandes obras de arte, como a música de
Beethoven, desenvolvem em nós um sentimento vital, que é a emoção
estética, que nos possibilita reconhecer a beleza, a bondade e a
harmonia. Literatura e artes não podem ser tratadas no currículo escolar
como conhecimento secundário.
Qual a sua opinião sobre o sistema brasileiro de ensino?
O Brasil é um país extremamente aberto a minhas ideias pedagógicas. Mas,
a revolução do seu sistema educacional vai passar pela reforma na
formação dos seus educadores. É preciso educar os educadores. Os
professores precisam sair de suas disciplinas para dialogar com outros
campos de conhecimento. E essa evolução ainda não aconteceu. O professor
possui uma missão social, e tanto a opinião pública como o cidadão
precisam ter a consciência dessa missão.
Paulo Freire, o educador brasileiro mais conhecido em todo o mundo, deixou-nos centenas de reflexões dignas de total apreço.
Dentre elas, separamos 10 frases aos leitores da Revista Pazes. Quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é ser o opressor.
***
O erro, na verdade, não é ter um certo ponto de vista, mas
absolutizá-lo e desconhecer que, mesmo do acerto de seu ponto de vista é
possível que a razão ética nem sempre esteja com ele.
***
Não há saber mais ou menos: há saberes diferenciado.
***
A alegria não chega apenas no encontro do achado, mas faz
parte do processo da busca. E ensinar e aprender não pode dar-se fora da
procura, fora da boniteza e da alegria.
*** Gosto de ser gente porque, inacabado, sei que sou um
ser condicionado, mas, consciente do inacabamento, sei que posso ir mais
além dele. Esta é a diferença profunda entre o ser condicionado e o ser
determinado. A diferença entre o inacabado que não se sabe como tal e o
inacabado que histórica e socialmente alcançou a possibilidade de
saber-se inacabado.
***
Eu sou um intelectual que não tem medo de ser amoroso. Amo as
gentes e amo o mundo. E é porque amo as pessoas e amo o mundo que eu
brigo para que a justiça social se implante antes da caridade.
*** Ninguém ignora tudo. Ninguém sabe tudo. Todos nós
sabemos alguma coisa. Todos nós ignoramos alguma coisa. Por isso
aprendemos sempre.
***
A humildade exprime uma das raras certezas de que estou certo: a de que ninguém é superior a ninguém.
*** Ai daqueles que pararem com sua capacidade de
sonhar, de invejar sua coragem de anunciar e denunciar. Ai daqueles
que, em lugar de visitar de vez em quando o amanha pelo profundo
engajamento com o hoje, com o aqui e o agora, se atrelarem a um passado
de exploração e de rotina.
“A
educação deve ser um despertar para a filosofia, para a literatura,
para a música, para as artes. É isso que preenche a vida. Esse é o seu
verdadeiro papel.”
O filósofo francês Edgar
Morin fala sobre um dos temas que o tornou uma influência mundial, a
educação. Morin fala sobre a necessidade de estimular o questionamento
das crianças, sobre reforma no ensino e sobre a importância da reflexão
filosófica não tanto para que respostas sejam encontradas, mas para
fomentar a investigação e a pluralidade de possíveis caminhos. Leia
abaixo:
O senhor costuma comparar o nosso planeta a uma
nave espacial, em que a economia, a ciência, a tecnologia e a política
seriam os motores, que atualmente estão danificados. Qual o papel da
educação nessa espaçonave?
Ela teria a função de trazer a compreensão e fazer as ligações
necessárias para esse sistema funcionar bem. Uso o verbo no condicional
porque acho que ela ainda não desempenha esse papel. O problema é que
nessa nave os relacionamentos são muito ruins. Desde o convívio entre
pais e filhos, cheio de brigas, até as relações internacionais basta
ver o número de guerras que temos. Por isso é preciso lutar para a
melhoria dessas relações.
O que é preciso mudar no ensino para que o nosso planeta, ou a nave, entre em órbita? Um dos principais objetivos da educação é ensinar valores. E esses são
incorporados pela criança desde muito cedo. É preciso mostrar a ela como
compreender a si mesma para que possa compreender os outros e a
humanidade em geral. Os jovens têm de conhecer as particularidades do
ser humano e o papel dele na era planetária que vivemos. Por isso a
educação ainda não está fazendo sua parte. O sistema educacional não
incorpora essas discussões e, pior, fragmenta a realidade, simplifica o
complexo, separa o que é inseparável, ignora a multiplicidade e a
diversidade.
O senhor então é contra a divisão do saber em várias disciplinas?
As disciplinas como estão estruturadas só servem para isolar os objetos
do seu meio e isolar partes de um todo. Eliminam a desordem e as
contradições existentes, para dar uma falsa sensação de arrumação. A
educação deveria romper com isso mostrando as correlações entre os
saberes, a complexidade da vida e dos problemas que hoje existem. Caso
contrário, será sempre ineficiente e insuficiente para os cidadãos do
futuro.
Na prática, de que forma a compreensão e a condição humana podem estar presentes em um currículo?
Ora, as dúvidas que uma criança tem são praticamente as mesmas dos
adultos e dos filósofos. Quem somos, de onde viemos e para que estamos
aqui? Tentar responder a essas questões, com certeza, vai instigar a
curiosidade dos pequenos e permitir que eles comecem a se localizar no
seu espaço, na comunidade, no mundo e a perceber a correlação dos
saberes.
Mas uma pergunta como “quem somos?” não é fácil de responder.
E não precisa ser respondida. É a investigação e a pluralidade de
possíveis caminhos que tornam o assunto interessante. Podemos ir pelo
social, somos indivíduos, pertencentes a determinadas famílias, que
estão em certa sociedade, dentro de um mundo que tem passado, história.
Todos temos um jeito de ser, um perfil psicológico que também dá outras
informações sobre essa questão. Mas também somos seres feitos de células
vivas, entramos na biologia, que são formadas por moléculas, temos
então a química. Todas essas moléculas são constituídas por átomos que
vieram de explosões estelares ocorridas há milhões de anos… E assim por
diante. Sempre instigando a curiosidade e não a matando, como
frequentemente faz a escola.
Como temas tão profundos podem ser tratados sem que a aula fique chata?
É só não deixar enjoativo o que é por natureza passional. Um jornal
francês de literatura fez uma pesquisa entre os alunos e descobriu que
até os 14 anos os jovens gostam de ler e lêem muito. Quando vão para o
liceu, lêem menos. É verdade que eles começam a sair mais de casa e ter
outros interesses, mas um dos principais motivos é que os professores
tornam a literatura chata, decupando-a em partes pequenas e analisando
minuciosamente o seu vocabulário, em vez de dar mais valor ao sentido do
texto, à sua ação. Nada mais passional do que um romance, nada tão
maravilhoso quanto a poesia! Nada retrata melhor a problemática humana
do que as grandes obras literárias. Os saberes não devem assassinar a
curiosidade. A educação deve ser um despertar para a filosofia, para a
literatura, para a música, para as artes. É isso que preenche a vida.
Esse é o seu verdadeiro papel.
A literatura e as artes deveriam ter mais destaque no ensino?
Sem dúvida. Elas poderiam se constituir em eixos transdisciplinares.
Pegue-se Guerra e Paz, de Tolstói, por exemplo. O professor de
Literatura pode pedir a seu colega de História para ajudá-lo a situar a
obra na história da Rússia. Pode solicitar a um psicólogo, da escola ou
não, que converse com a classe sobre as características psicológicas dos
personagens e as relações entre eles; a um sociólogo que ajude na
compreensão da organização social da época. Toda grande obra de
literatura tem a sua dimensão histórica, psicológica, social, filosófica
e cada um desses aspectos traz esclarecimentos e informações
importantes para o estudante. Todo país tem suas grandes obras e
certamente também os clássicos universais servem para esse fim.
O professor deve buscar sempre o trabalho interdisciplinar?
Ele deve ter consciência da importância de sua disciplina, mas precisa
perceber também que, com a iluminação de outros olhares, vai ficar muito
mais interessante. O professor pode procurar ter essa cultura menos
especializada, enquanto não existir uma mudança na formação e na
organização dos saberes. O professor de Literatura precisa conhecer um
pouco de história e de psicologia, assim como o de Matemática e o de
Física necessitam de uma formação literária. Hoje existe um abismo entre
as humanidades e as ciências, o que é grave para as duas. Somente uma
comunicação entre elas vai propiciar o nascimento de uma nova cultura, e
essa, sim, deverá perpassar a formação de todos os profissionais.
Como o professor vai aprender a trabalhar de forma conjunta?
Ele vai se autoformar quando começar a escutar os alunos, que são os
porta-vozes de nossa época. Se há desinteresse da classe, ele precisa
saber o porquê. É dessa postura de diálogo que as novas necessidades de
ensino vão surgir. Ao professor cabe atendê-las.
Como acontece uma grande reforma educacional?
Nenhuma mudança é feita de uma só vez. Não adianta um ministro querer
revolucionar a escola se os espíritos não estiverem preparados. A
reforma vai começar por uma minoria que sente necessidade de mudar. É
preciso começar por experiências pilotos, em uma sala de aula, uma
escola ou uma universidade em que novas técnicas e metodologias sejam
utilizadas e onde os saberes necessários para uma educação do futuro
componham o currículo. Teríamos, desde o começo da escolarização, temas
como a compreensão humana; a época planetária, em que se buscaria
entender o nosso tempo, nossos dilemas e nossos desafios; o estudo da
condição humana em seus aspectos biológicos, físicos, culturais, sociais
e psíquicos. Dessa forma começaríamos a progredir e finalmente a mudar.
Como tratar temas tão profundos como o estudo da condição humana nos diversos níveis de ensino?
Os professores polivalentes da escola primária são os ideais para tratar
desses assuntos. Por não serem especialistas, têm uma visão mais ampla
dos saberes. Eles podem partir da problemática do estudante e fazer um
programa de ensino cheio de questões que partissem do ser humano. O
polivalente pode mostrar aos pequenos como se produz a cultura da
televisão e do videogame na qual eles estão imersos desde muito cedo. Já
a escola que trabalha com os jovens deve dedicar-se à aprendizagem do
diálogo entre as culturas humanísticas e científicas. É o momento ideal
para o aluno conhecer a história de sua nação, situar-se no futuro de
seu continente e da humanidade. Às universidades caberia a reforma do
pensamento, para permitir o uso integral da inteligência.
Fonte: revista Nova Escola | Fronteiras do Pensamento
Educação infantil é tão importante quanto a universidade, diz educador cubano
porRedação
12/05/2016 22:38
Alguns estudiosos e professores da área
da educação defendem que a creche e a pré-escola servem para cuidar da
criança, já outros dizem que são locais de brincar e aprender. Sobre
este tipo de questionamento, o professor doutor Guillermo Arias, da
Universidade de Havana, em Cuba, afirmou em entrevista ao "Programa
Diálogos", da TV Unesp, que a fase inicial da educação infantil é tão ou
mais importante que a universidade. Segundo ele, esta etapa da vida da
criança contribui especialmente ao desenvolvimento integral como
indivíduo.
Para o educador cubano, muitas
instituições de educação infantil ficam restritas ao cuidado e não
estimulam as habilidades e competências da criança – o que, segundo ele,
realmente a prepara para novos desafios. O professor diz que a proteção
também é um aspecto importante no ensino infantil, mas não é o
suficiente.
Créditos: Foto: reprodução TV Unesp
Guillermo Arias, professor da Universidade de Havana, em Cuba
Para Arias, a educação é uma disciplina que precisa
de apoio de outras áreas do conhecimento, como a psicologia, a
antropologia e as ciências sociais e econômica. O professor explica na
entrevista que a educação infantil promove o desenvolvimento psíquico
que, por sua vez, contribui ao desenvolvimento da consciência e da
formação da personalidade da criança. Para ele, esta fase do ensino deve
ser estruturada para promover relações emocionais e afetivas através do
conhecimento.
O educador ainda ressalta a importância de que a criança
construa, durante a educação infantil, a capacidade e a consciência de
que a linguagem falada pode ser representada para que avance no processo
da alfabetização. Arias defende ainda que o Ensino Fundamental deva ser
uma continuação integrada e articulada com o ensino infantil, para que
se garanta mais qualidade à aprendizagem.
Pesquisa mostra que acesso à biblioteca contribui para aprendizado infantil
porRedação
17/06/2015 14:01
Créditos: crédito: BIMS Sabadell
Crianças com acesso a bibliotecas atingem aprendizado máximo.
Uma pesquisa realizada pelo Instituto Brasil Leitor
indica que o acesso a uma biblioteca contribui significativamente para a
aprendizagem infantil. O estudo mostra que o acesso aos livros e
brinquedos em um espaço organizado e supervisionado faz com que mais de
80% das crianças atinjam o nível máximo de aprendizado.
Os dados foram levantados a partir do acompanhamento de crianças
entre 2 e 6 anos em um Centro de Educação Infantil (CEI) e uma Escola
Municipal de Educação Infantil (EMEI) na cidade de São Paulo. Foram
observados 32 itens, distribuídos em seis categorias: iniciativa,
relações sociais, representação criativa, música e movimento, linguagem e
comunicação e matemática e ciência. O desenvolvimento é medido em
níveis que vão de 1 a 5.
Segundo a pesquisa, de modo global, o percentual de crianças no nível
5 de aprendizagem no CEI passou de 42% antes da biblioteca para 92%,
após o contato dos estudantes com o espaço. Na EMEI, apenas 5% dos
alunos atingiam o nível máximo, antes da biblioteca. Após a implantação
do projeto, o percentual chegou a 83%.
No quesito representação criativa, 49% das crianças do CEI estavam no
nível máximo antes da biblioteca. O percentual subiu para 82% após a
implementação. Na EMEI, 6% estavam no nível máximo nesse item na etapa
anterior a criação do espaço, índice que subiu para 70% na etapa final.
O resultado foi ainda mais expressivo na avaliação do item de música e
movimento. Antes da biblioteca, nenhum aluno da EMEI chegava ao nível
máximo nesse quesito. Com a chegada da biblioteca, o percentual atingiu
93%. No CEI, o índice saiu de 26% para 92%.
A coordenadora da pesquisa, Roseli Monaco, explica que, além da
estruturação adequada do espaço, é fundamental para o sucesso dos
projetos a formação oferecida aos professores e famílias. “Em uma
instituição de educação infantil, não adianta você colocar só o
material. O educador tem que planejar e observar a criança brincando”,
ressalta.
Outra estratégia importante, de acordo com Roseli, é associação entre
os livros e os brinquedos, repassada aos professores no trabalho de
capacitação. “Para todo livro tem um brinquedo ou uma brincadeira
associada. A criança, na educação infantil, só aprende brincando. O
livro é um objeto lúdico”, destaca.
Para a coordenadora, com todos esses elementos, a criança têm mais
condições de desenvolver todo seu potencial. “Quando você oferece o
material, o livro, o brinquedo, a formação e envolve a família, o nível
de aprendizagem da criança evolui”, enfatiza.
A medida provisória aprovada pelo Governo Federal neste mês
de setembro, que desobriga o ensino de artes, sociologia e filosofia nas
escolas, apesar de impactar mais diretamente a vida dos jovens
secundaristas, uma vez que se aplica à reforma curricular do Ensino
Médio, levanta reflexões cruciais para a educação infantil. Afinal, o
que as crianças aprendem quando estudam Filosofia?
O educador Peter Worley, presidente da The Philosophy Foundation, e
pesquisador do King’s College de Londres, fez um experimento com
crianças de nove e dez anos de uma escola pública de Londres que acabou
se revelando um diálogo filosófico genuíno. A experiência foi relatada
em um artigo, publicado no site Aeon e traduzido pelo Portal Aprendiz. E
faz pensar: Como estimular o talento natural das crianças para
filosofar sobre as coisas? Afinal, mais do que um currículo obrigatório,
a filosofia é inerente ao ser humano, e estudos
já comprovam que ela contribui para a apreensão das ciências práticas,
como a matemática. O que significa, então, proporcionar uma relação com
as questões humanas mais primordiais?
Peter fez a seguinte pergunta às crianças: “Alguém gostaria de viajar
pelo tempo?”, com a condição de que o lugar escolhido para a viagem
fosse no futuro, pois a máquina imaginária não vai para o passado, e
também que o destino da viagem estivesse a menos de 15 segundos de
distância. Bastou esse cenário sugerido para que as crianças
mergulhassem numa reflexão profunda sobre o tempo, a vida e existência
humana.
Créditos: Shutterstock
"Tudo
está se movendo em direção ao futuro um segundo por vez" - foi a
resposta que o professor Peter ouviu de uma criança durante o
experimento filosófico.
A primeira participante da brincadeira-experimento é uma menina. Ela
se senta em uma cadeira que faz as vezes de máquina do tempo. Então, o
professora estimula que todos os outros alunos contem até 12 – seria o
tempo de chegar no destino escolhido. Depois, Peter questiona: “Afinal,
ela viajou no tempo”, ao que uma das crianças responde: “Somos todos
viajantes do tempo”. Outros dizem que não, que ela apenas ficou lá
sentada e não saiu do lugar. E outros vão além: “Existem dois tipos de viagem no tempo: ‘natural’ e ‘artificial’.
A viagem natural pelo tempo é a maneira pela qual todos nos movemos
pelo tempo; já a ‘artificial’ é o que viajantes do tempo, como o Doctor
Who, fazem.”
"Quando eu faço filosofia com as crianças, eu estou introduzindo à
filosofia como uma atividade, um processo de pensamento – estou
introduzindo-as ao ato de filosofar. Minha questão é: isso acontece
suficientemente?", questiona Peter, ressaltando que muitas pessoas -
professores até - caem no equívoco de achar que aprender filosofia é
aprender o que ela quer dizer. Para ele, é muito mais do que isso, é
colocar-se à disposição da reflexão, do pensamento crítico. E não faltam
exemplos de que as crianças fazem isso o tempo todo, em seus
infindáveis "porquês" sobre as coisas. "Crianças não podem ler textos
filosóficos, não podem examinar argumentos complexos feitos por
filósofos históricos profissionais. Mas elas podem responder a questões
profundas, elaboradas de maneira simples", conclui o professor.
Crianças são filósofas por natureza
No livro “A poética do devaneio”, o filósofo francês Gaston Bachelard
defende o valor das capacidades imaginativas da criança para recriar
situações vividas e inventadas, e afirma que nosso poder de
ressignificação da vida começa na infância, quando a criança constrói
suas primeiras referências de solidariedade em relação ao outro e de
consciência de si mesma.
Créditos: Shutterstock
Estimular a pergunta é respeitar a natureza da criança
“Somente pela narração dos outros é que conhecemos a nossa unidade.
No fio de nossa história contada pelos outros, acabamos, ano após ano,
por parecer-nos com nós mesmos”, explica o autor. Para ele, o germe de
uma infância bem nutrida desses potenciais de imaginação permanece na
vida adulta. “Uma infância potencial habita em nós. Essa infância,
aliás, permanece como uma simpatia de abertura para a vida, permite-nos
compreender e amar as crianças como se fossemos os seus iguais”.
A afirmação é de um grupo de pedagogos e psicólogos que compõem a equipe da plataforma de assinatura de livros "Leiturinha".
Segundo a equipe, a poesia ser mais facilmente assimilada pelas
crianças do que pelos adultos, reforçando a importância do incentivo a
esse gênero literário dissociado da intenção pedagogizante: para eles, é
mais importante proporcionar a experiência da poesia do que associá-la a
uma avaliação de compreensão ou atividade escolar.
O próprio pesquisador e filósofo francês Gaston Bachelard
já afirmava, em um livro de 1988 , "A poética do devaneio", que "a
infância é um germe de poema". Com essa afirmação, ele defende o dom
natural dos pequenos para o "devaneio poético", responsável, em grande
parte, pela maneira como as crianças elaboram o mundo.
Se muitos adultos têm dificuldade de ler poesia, isso se dá
principalmente pelo fato de que o poema é o lugar da metáfora e da
linguagem simbólica, que sugere mais do que afirma, e oferece
possibilidades mais do que fatos. Na vida adulta, nos distanciamos dessa
forma de enxergar as coisas.
Mas ao contrário, para as crianças, assimilar esse tipo de
linguagem é natural, faz parte de suas habilidades imaginativas mais
puras.
Para ler poesia com as crianças, mais do que "mostrar" onde está o sentido, o importante é oferecer a experiência.
Dicas de incentivo à leitura
"Quem conseguiu definir a poesia até hoje? Ninguém. Há
duas mil definições que vêm desde os gregos, que já se preocupavam com o
problema, e Aristóteles tem nada menos que uma Poética para isso, mas
não há uma definição da poesia que me convença e que sobretudo convença a
um poeta. No fundo, a poesia é isso que fica de fora quando terminamos
de definir a poesia: escapa e não permite definição.”
A provocação acima é do escritor argentino Jorge Luis
Borges, e revela algo que é fácil esquecer, principalmente no ambiente
escolar: poesia não é para 'entender'.
Para ler um poema, não é necessário nenhum pré-requisito a
não a disponibilidade e o interesse, e quanto mais “puros” estiver o
leitor, melhor vai conseguir aproveitar o conteúdo.
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"Mania
de Explicação", de Adriana Falcão, é uma verdadeira ode à imaginação
poética. Com simplicidade e lirismo, a autora propõe 'explicações' de
criança para as palavras do dia a dia.
É na infância que desenvolvemos hábitos e preferências.
Lendo poesia desde cedo, desenvolve-se uma sensibilidade em aspectos da
vida com um todo, como sensibilidade e capacidade de ressignificar o
cotidiano a partir de observações aparentemente banais.
A função do poema transcende sua intenção enquanto
instrumento educativo. Por isso, é importante ensinar as crianças a
lerem os poemas livres de intenção, apenas lendo.
A curiosidade pelos livros pode começar já na primeira infância.
“Por que motivo as crianças, de modo geral, são poetas e,
com o tempo, deixam de sê-lo?”: essa é a provocação central do livro
"Antologia Ilustrada da Poesia Brasileira". Organizado e ilustrado pela
compositora Adriana Calcanhoto, esta coletânea reúne poemas de alguns
dos grandes nomes da poesia brasileira, em um livro dedicado a crianças
de todas as idades.
Uma dica de mediação para esta e outras obras infantis é
'não é preciso entender tudo ao pé da letra'. Incentivar a criança a
refletir e meditar sobre o que leu também ajuda na compreensão e
estimula a criatividade, além de contextualizar e ambientar a obra.
Afinal, a poesia tem sua origem na fala. Quando parecer difícil de
entender, pode se fazer a leitura em voz alta.
Por que temos tanta pressa de alfabetizar as crianças?
porRedação
25/10/2016 12:47
O mundo em que vivemos é repleto de estímulos - visuais,
sonoros, textuais - e passamos a vida toda decodificando esses códigos a
todo instante. O processo de ler e interpretar esses estímulos é tão
automático e aparentemente banal que não paramos para pensar em como -
e, principalmente, quando - ele acontece.
Apesar de ser mais recorrente entre seis e sete anos, não há um
momento exato ou ideal para que a chamada "revolução mental" aconteça -
criado pelo neurocientista Stanislas Dehaene, o termo denomina o período
em que a criança começa a criar as primeiras conexões profundas com a
palavra.
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Alfabetização é um processo complexo que não deve ficar à mercê da ansiedade dos pais e professores.
Mas quando a leitura é de palavras, o processo é mais complexo.
"Passamos tanto tempo recebendo e transmitindo informações por meio da
linguagem escrita que ela nos parece quase tão espontânea quanto a
comunicação oral. No entanto, não há nada de natural na leitura. Não
existe no cérebro nenhuma sequer região especialmente dedicada à
decodificação de símbolos que representem palavras", destaca a
jornalista especialista em neurociências e neuropsicologia Michelle
Müller, em um texto publicado no Brasil Post.
Diante disso, querer 'apressar' a alfabetização das crianças se torna
um contrassenso. "Para acontecer com sucesso, a alfabetização deve
esperar que etapas anteriores estejam muito bem construídas e
assimiladas", explica Michelle, referindo-se ao ritmo de cada pequeno na
hora de apreender os estímulos externos. "Alfabetização precoce é perda
de tempo", ela enfatiza.
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Crianças
pequenas e bebês aprendem muito rápido. Mas por que apressar a
alfabetização? Para a especialista em neuropsicologia Michelle Müller, é
perda de tempo.
Afinal, o que é alfabetização?
O psicolinguista colombiano Evelio Cabrejo Parra, explica que
adquirimos a linguagem já na primeira infância, quando bebês, e associa a
'alfabetização' a um processo anterior à fala e à escrita. "O bebê, ao
nascer, já vem com a capacidade de escutar. Quando se lê para ele em voz
alta ou se canta uma canção de ninar, ele se põe em posição de escuta.
Isso quer dizer que ele está tratando de construir significado à sua
maneira".
Já a escritora e ilustradora infantil Patricia Auerbach ressalta como
o próprio conceito do que é 'ler' é insuficiente. Segundo ela, a
alfabetização e a leitura na educação infantil focam somente no texto,
deixando de lado o potencial de leitura de imagens. "Se a gente só
alfabetizar para a palavra, a criança não vai dar conta de decodificar o
mundo, que é muito visual”, explica Patricia em entrevista ao blog Garimpo Miúdo.
Patricia é autora de diversos livros ilustrados infantis, como "O
jornal" (Brinque-Book) e "Coisas de gente grande" (Cosac Naify).
Seja como for, o fato é que a maioria das pessoas tem a capacidade da
linguagem tão introjetada no dia a dia que é fácil esquecer como foi
lento e gradual adquiri-la. Antes de generalizar o aprendizado das
palavras ou apressar a alfabetização, é preciso ter em mente que a
leitura de mundo dos pequenos acontece de muitas maneiras. Um bebê, por
exemplo, lê com o corpo, com os ouvidos, com as mãos, a partir da
exploração tátil, sonora e visual das coisas.
"A primeira tarefa da educação é agitar a vida, mas deixando-a livre para que se desenvolva".
A frase acima de Maria Montessori, e data de um século atrás. Apesar
de não haver receitas infalíveis quando o assunto é educação infantil, e
de que a grande descoberta da pós-modernidade em relação à infância é
justamente o não saber e o aprender junto, os estudos montessorianos são
referência. E a neurociência sustenta alguns de seus principais
aspectos a partir de evidências científicas.
Independentemente de qual linha pedagógica você siga, são aprendizados interessantes para ampliar o repertório.
Steve Hughes, neuropsicólogo e pediatra, afirma que que o Método
Montessori pode potencializar algumas funções cerebrais da criança,
responsáveis por expandir o desenvolvimento cognitivo. Para ele, o
método montessoriano poderia ganhar um adendo: "sistema original de
aprendizagem baseado no cérebro.
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Vivenciar
o mundo através das mãos equivale a entrar pela grande porta do nosso
próprio cérebro e, por isso, estas precisam ter um papel fundamental no
aprendizado.
Confira algumas descobertas do pesquisador:
1. As mãos são o instrumento do cérebro
2. A vivência natural potencializa as capacidades e competências da criança
3. As funções executoras e Montessori
4. Os períodos sensíveis ou janelas de oportunidades na infância
5. Os neurônios espelho como base do aprendizado
O método Montessori e deverá continuar sendo pesquisado de forma
exaustiva, já que garante a criação de um universo baseado no afeto e no
respeito dos ritmos individuais de cada criança e seu entorno. Clique aqui para ler a matéria completa do Catraquinha sobre as demais linhas pedagógicas, como Waldorf e Construtivista.
5 descobertas da neurociência que sustentam a pedagogia Montessori
“A primeira tarefa da educação é agitar a vida, mas deixando-a livre para que se desenvolva”,
afirmou Maria Montessori há mais de um século. Hoje, o triângulo
educacional no qual se baseiam a sua pedagogia e os seus princípios
fundamentais estão sendo evidenciados pela neurociência.
Não só isso, Steve Hughes, neuropsicólogo e pediatra, tem a firme convicção após anos de experiências que o Método Montessori potencializa certas funções cerebrais que ajudam a expandir o desenvolvimento cognitivo. Inclusive colocou como sobrenome ao método “sistema original de aprendizagem baseado no cérebro”.
O desenvolvimento neurológico é potencializado pela aprendizagem através da metodologia
Montessori. Esta afirmação não apenas tem o respaldo de centenas de
casos de desenvolvimento de sucesso desde a sua fundação, mas também
pelas diferentes descobertas que a neurociência atual tem realizado.
Vejamos 5 delas:
Ilustração de Karin Taylor
1. As mãos são o instrumento do cérebro
“Com as mãos o ser humano concebe o
seu entorno. Elas são as ferramentas executoras da inteligência. As mãos
são criativas, podem produzir coisas. Os órgãos sensoriais e a
capacidade de coordenação se desenvolvem através das atividades manuais”, afirmou Maria Montessori.
Hoje em dia sabemos que os
recursos que o cérebro usa para processar os estímulos sensoriais que
percebe através das mãos são sensivelmente superiores a outras partes do
corpo. Então, poderíamos dizer que vivenciar o mundo através das mãos equivale a entrar pela grande porta do nosso próprio cérebro e, por isso, estas precisam ter um papel fundamental no aprendizado.
Na imagem podemos observar o que
denominamos de “homúnculo motor e homúnculo sensorial”. Este termo é
usado para descrever uma figura humana distorcida desenhada para
refletir o espaço sensorial relativo que nossas partes corporais
representam no córtex cerebral. Em ambos homúnculos vemos como as mãos
são sensivelmente maiores que outras áreas.
2. A vivência natural potencializa as capacidades e competências da criança
“A educação é um processo natural
realizado pela criança e não se adquire ouvindo palavras, mas sim
mediante as experiências de uma criança no seu entorno”, afirmou María Montessori.
Favorecer a vivência livre e natural significa encorajar as crianças e bebês a se moverem e a se comunicarem com o seu entorno.
Os pequenos que aprendem através da pedagogia Montessori passam mais
tempo em movimento do que nas escolas tradicionais; isto é, se exige uma
relação ativa com o meio, o que promove um maior domínio das
habilidades motoras, sensoriais, emocionais e cognitivas.
Então, o benefício da promoção de uma atitude ativa com relação ao entorno torna os bebês e crianças mais competentes na hora de reconhecer as intenções alheias.
Esta descoberta está apoiada em diferentes pesquisas sobre os
benefícios do jogo como manoplas de velcro para provocar uma ação
intencional. Em resumo, promover que as crianças façam alguma coisa as
ajuda a aprender mais rápido do que pela mera observação, assim como
enfatiza o texto publicado em 1981 por Kandel e colaboradores.
3. As funções executoras e Montessori
As funções executoras são aquelas habilidades cognitivas que nos permitem manipular ideias mentalmente. Estas
capacidades mentais promovem a resolução consciente, ativa, voluntária e
eficaz dos problemas que se apresentam na vida cotidiana.
Aprender a ser flexível e a
aceitar as mudanças do entorno, se concentrar em uma tarefa, continuá-la
com um objetivo, resistir aos próprios impulsos e reter a informação na
mente para com ela operar são habilidades indispensáveis para um
correto desenvolvimento.
O termo “funções executoras” classifica
estas habilidades em três categorias: inibição, memória de trabalho e
flexibilidade cognitiva. Se estas funções não forem bem desenvolvidas,
podem se diagnosticar erroneamente transtornos como TDAH ou outras
dificuldades de aprendizagem.
A partir da pedagogia Montessori,
desenvolvida em um momento em que isto não era conhecido, podemos
desenvolver estas funções com diferentes atividades como por exemplo a
espera, a procura de material ultrapassando um labirinto formado pelos
colegas realizando outras atividades, etc. As pesquisas comprovam que as crianças que frequentaram centros de pré-escola Montessori mostram uma melhor execução nesta família de processos mentais.
4. Os períodos sensíveis ou janelas de oportunidades na infância
Maria Montessori observou que na infância aconteciam períodos sensíveis para o aprendizado.
Nestes momentos evolutivos reside um grande potencial neuroemocional e,
por isso, a educação é primordial. Na verdade, é fundamental que no
período entre 0 e 11 anos as crianças explorem o seu mundo de forma mais
autônoma possível.
Então, de forma geral podemos falar da criação do microcosmo ou micromundos Montessori. Isto é a criação de um entorno puramente infantil: móveis do tamanho das crianças, brinquedos que potencializam a exploração e a flexibilidade cognitiva, etc. A neurociência identificou estas etapas onde o cérebro precisa de uma certa estimulação para se desenvolver.
5. Os neurônios espelho como base do aprendizado
Que as crianças vejam e experimentem o mundo é a base da inquietude que inculca a metodologia Montessori entre os menores. Os neurônios espelho, os quais se localizam no lóbulo frontal, ajudam a absorver a informação do entorno através dos sentidos.
Isto foi descoberto por Maria Montessori por meio da observação, e
posteriormente confirmado pelas descobertas destes neurônios
especializados na imitação.
Como vemos, o método Montessori está obtendo grande comprovação científica
e deverá continuar sendo pesquisado de forma exaustiva, já que garante a
criação de um universo baseado no afeto e no respeito dos ritmos
individuais de cada criança e seu entorno.
Para o escritor e ilustrador André Neves, "para aproximar o
leitor da fantasia". O autor pernambucano defende a 'literatura para a
infância', que amplia e questiona o que hoje entendemos por "literatura
infantil". Para ele, livros para a infância são aqueles que atingem e
encantam não só as crianças, mas também a infância que habita cada
adulto.
Prestes a lançar seu novo livro, "NUNO e as coisas incríveis",
André pratica em suas obras o exercício constante de lembrar que
encantamento é disposição, e por isso faz histórias que oferecem um
olhar renovado sobre coisas do cotidiano, que muitas vezes o olhar
'adulto' deixa de observar. São livros sem rótulos para infâncias sem
idade. Por isso, quando questionado para que, afinal, serve a literatura
para crianças, ele responde sem pestanejar que a finalidade é a
fantasia, a imaginação, o devaneio.
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Fazer com que o leitor na imaginação seria um dos motivos de literatura dita 'para crianças' funcionar também com os adultos.
Para o autor, o conceito de “literatura infantil” que temos hoje é
superficial. “O que está raso na ideia de literatura para crianças é
alguns livros serem classificados estritamente como meramente
‘infantis’, mesmo quando muitos deles carregam uma potência de percepção
da infância dos adultos”, explica o autor, que inaugura uma exposição
inédita em São Paulo neste sábado, 22 de outubro, em que vai justamente
propor ao visitante que conheça as muitas possibilidades do gênero a
partir de uma imersão pela materialização de cenários e personagens
literários. Clique aqui para saber mais sobre a mostra. 'Ler' uma imagem é tão importante quanto ler um texto
Créditos: Divulgação/Jujuba
O
livro "NUNO e as coisas incríveis" conta a história de um menino
sensível que recria o significado das coisas com a imaginação e a
observação das coisas que o cercam.
O mecanismo que o autor utiliza para atingir essa aproximação com a
fantasia é mesclar a narrativa visual com o texto. A história não fica
só nas palavras e transborda para as imagens e para os muitos espaços em
branco, exigindo do leitor a sensibilidade de colocar-se à disposição
da imaginação. Isso faz com que não só as crianças se encantem com a
história, mas também que os adultos encontrem nela uma oportunidade de
resgatar o gosto pela imaginação.
Segundo ele, a intenção de suas obras é fazer com que o leitor,
independentemente de sua idade, alcance com a imagem os mesmos recursos
de pensamento que ele alcança quando lê as palavras, e destaca a a
importância de nos alfabetizarmos para a leitura visual. “No caso da
criança, é mais fácil que para o adulto. A criança está mais liberta pra
ler uma imagem, o adulto é que ainda não sabe como mediar essa
leitura”, aponta.