Dedico essa flor aos Josés/Marias
que estão
espalhados pelo Brasil a fora.
Hoje é dia da Alfabetização/Letramento.
Dediquei especial atenção e reflexão sobre esse tema, à formação global dos indivíduos.
Entendo essa questão como um processo longo, contínuo e muito importante para formação da cidadania.
Um dia após a comemoração do dia 7 de setembro, Independência do Brasil, tenho umas perguntas que não querem calar, conseguiremos manter essa conquista sem uma parcela significativa da nação estar alfabética e letrada? Como ser independente sem autonomia? Como ser autônomo sem consciência do mudo que nos cerca?
Paulo Freire um pensador contumaz, no sentido de ser obstinado e insistente, em seus ensinamentos nos diz:
- "Aprender a ler e escrever é aprender a ler o mundo, compreender o seu contexto numa relação dinâmica vinculando linguagem e realidade e ser alfabetizado é tornar-se capaz de usar a leitura e a escrita como meio de tomar consciência da realidade e transformá-la."
Essa "máxima" ( expressão de uma verdade ou princípio geral) daria para ser tema de mestrado, doutorado, pós- doutorado e muito mais.
Estamos muito distantes dessa conquista, tanto na qualidade da formação de profissionais, da estrutura física para atender o contingente brasileiro, valorização dos educadores e especialmente quanto aos salários.
Ontem no dia da Independência fui testemunha de uma situação bastante incomum.
Estava parada aguardando um coletivo quando um senhor começou a narrar sua opnião sobre essa data comemorativa.
Observei que era uma pessoa bastante humilde, com trajes e aparência de morador de rua.
Sua fala era clara, objetiva, bem estruturada, bem fundamentada, porém após cada palavra fazia um ruído, que julguei ser tique nervoso.
Tudo que expressava, em silêncio fazia-lhe uma leve menção com a cabeça em sinal de aprovação, e outras pessoas comentavam baixinho que ele estava falando tudo que não tínhamos coragem de falar. Mas ainda o julgavam fora de suas capacidades mentais e começaram afastar-se, protegendo-se.
Ele discorreu sobre vários momentos políticos do Brasil, desde Getulio Vargas, a repressão militar, os governos posteriores, a corrupção, a impunidade dos que estão acima da lei, e por conseguinte as consequências de um povo que se cala, que tudo aceita, que nada faz e todos sofrem em conjunto.
Não me contive e perguntei-lhe o nome, onde morava, onde nascera, sua profissão e se tinha família próxima, pois não concebi uma pessoa tão politizada, com uma compreensão da realidade tão apurada estar naquela situação.
Respondeu-me que mora numa pensão próximo de onde resido, seu nome José Carlos Silva e Souza, nascido no Rio de Janeiro, vivendo há mais de vinte anos em São Paulo, tem uma irmã, que segundo sabe, mora em Porto Rico, uma tia que há tempos não vê no Rio de Janeiro, e disse-me que lhe dei uma idéia, iria escrever pra ela, foi Hipe na juventude, hoje está aposentado e é panfleteiro três vezes por semana, para conseguir complementar seu orçamento, pois só tinha quinze anos de registro em carteira, sendo o salário mínimo insuficiente. Durante a vida trabalhou como segurança em escolas, auxiliar de serviços gerais e limpeza. Pouco estudou, só o suficiente para ler e escrever, confidenciou-me.
Fiquei confortada por ele conseguir manter-se, não estar na rua, como aparentava, mas pesarosa por encontrar-se naquelas condições, e percebi o quanto a aparência nos leva concluir errôneamente.
Durante a conversa já tinha deixado passar um coletivo e precisava ir embora, despedi-me e fui cumprir meus compromissos, com o coração cheio de esperança num mundo melhor.
Quantos "Josés" esse Brasil possui? Torço para que muitos!
Certamente Paulo Freire iria vibrar em conhecê-lo. O pouco de estudo lhe foi suficiente para apropriar-se do mundo que o cerca.
Magda Cunha
Fonte: Educando e criando por Neyva Daniella
http://umafamiliaincrivel.blogspot.com.br/2010/07/letramento.html
LETRAMENTO
Muit0 se fala hoje em dia sobre alfabetização e letramento.
Alfabetização e letramento são processos distintos, porém interdependentes, indissociáveis e simultâneos.
Alfabetização é codificação e decodificação, letramento é ter-se apropriado da escrita , o que é bem diferente de ter aprendido a ler e escrever.
Letramento é condição de quem interage com diferentes portadores de leitura e escrita; diferentes gêneros e funções da leitura e escrita em nossa vida. É o sentido ampliado da alfabetização.
Paulo Freire, ao definir a alfabetização, definiu letramento, visto que ele já via a alfabetização como condição de quem sabe ler e escrever dentro de um contexto onde a leitura e a escrita tenham sentido e façam parte da vida.
"Aprender a ler e escrever é aprender a ler o mundo, compreender o seu contexto numa relação dinâmica vinculando linguagem e realidade e ser alfabetizado é tornar-se capaz de usar a leitura e a escrita como meio de tomar consciência da realidade e transformá-la."
O que é Letramento?
Letramento não é um gancho
em que se pendura cada som enunciado,
não é treinamento repetitivo
de uma habilidade,
nem um martelo quebrando blocos de gramática.
Letramento é diversão
é leitura a luz de vela
ou lá fora, à luz do sol.
São notícias sobre o presidente
o tempo, os artistas da TV
e mesmo Mônica e Cebolinha
nos jornais de domingo.
É uma receita de biscoito,
uma lista de compras,
recados colados na geladeira,
um bilhete de amor,
telegramas de parabéns e cartas
de velhos amigos.
É viajar para países desconhecidos
sem deixar sua cama,
é rir e chorar
com personagens heróis e grandes amigos.
É um atlas do mundo
sinais de trânsito, caças ao tesouro,
manuais, instruções, guias,
orientações em bulas de remédio
para que você não fique perdido.
Letramento é, sobretudo
um mapa do coração do homem
um mapa de quem você é
e de tudo que você pode ser.
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